“Desde a aurora da cultura ocidental... a reflexão sobre o homem, aguilhoado pela interrogação ‘o que é o homem?’, permanece no centro das mais variadas expressões da cultura: mito, literatura, ciência, filosofia, ethos e polícia. Nela emerge com fulgurante evidência essa singularidade própria do homem que é a de ser o interrogador da si mesmo...”
(Lima Vaz).
Genericamente, compreende-se por Antropologia o estudo sobre o homem.Desta forma, o homem é objeto de estudo dos mais diferentes saberes científicos (Antropologia biológica, Antropologia cultural ou social, Antropologia econômica, Antropologia política...), bem como é objeto da interrogação filosófica (Antropologia filosófica).E a reflexão filosófica sobre o homem esta presente em todo o desenvolvimento histórico da filosofia.E esse desenvolvimento histórico encontra-se as mais diversas concepções de homem (concepção grega, concepção cristã, concepções modernas e contemporâneas).Isto significa que para o homem é fundamental o interrogar-se sobre si mesmo, formulando uma idéia que torne compreensível e de sentido à sua existência.
Face à pluralidade e diversidade de saberes sobre o homem, cabe à Antropologia filosófica, levando em consideração as contribuições apresentadas pelas diferentes ciências do homem, bem como os problemas e temas presentes na tradição filosófica, a elaboração de uma idéia unitária de homem que, tendo em vista a constituição ontológica do ser humano, responda ao problema fundamental “o que é homem?”
Dada a complexidade da interrogação filosófica sobre o ser humano, apresentamos alguns elementos fundamentais de uma antropologia filosófica.
Ser de possibilidades
A “experiência originária” do ser humano é a de que ele é responsável pelo seu ser.Isto significa que o ser humano recebe a sua existência como possibilidade.Não nasce plenamente determinado.Sua existência é, fundamentalmente, tarefa de construção de si mesmo, de realização de si mesmo.
Ser de possibilidades, o ser humano é um ser de inevitáveis decisões.E nas decisões vai realizando sua vida e dando sentido à sua existência.Constituindo o seu modo de ser.Este é o sentido fundamental do ser livre, da liberdade.Como ser de possibilidades, o ser humano é, constitutivamente, um ser da liberdade.Em suas decisões livres vai se tornando o que é.
Ser relacional
Um dos constitutivos ontológicos fundamentais do ser humano é o de que o homem é um ser-de-relações.Realiza suas possibilidades de ser nas e pelas relações que o constituem.
As relações fundamentais do ser humano, através das quais vai realizando sua vida, são: relação consigo mesmo, relação com o mundo, relação com os outros e relação com a Transcendência (o absolutamente Outro).
O homem é relação consigo mesmo por ser um ser-consciente.Como ser consciente é ser-sujeito.E a subjetividade é a configuração mais própria do que se é. E a construção da subjetividade se da pelas decisões livres e na e pelas relações que constituem o ser humano.
Ser-no-mundo, como constitutivo do ser humano, desvela a radical contingência e finitude da existência humana.E a historicidade da existência humana.E o lugar no qual vai construindo seu modo de ser e agir.
Relação fundamental é a relação com os outros.O ser humano é subjetividade que se constrói e se define na intersubjetividade.A alteridade (outreidade) desvela que o ser humano só é o que é, em sua liberdade, com outro.Decidir-se para si é decidir-se pelo outro.
Ser finito e contingente, o ser humano é abertura para a Transcendência.Para o absolutamente Outro.Horizonte último e radical que da sentido à existência humano.E o absolutamente Outro se revela no rosto do outro.
Ser pessoa
A unidade fundamental de realização do ser humano, desvelação de sua essência, é o ser pessoa.Ser corpóreo, psíquico, espiritual, ser-de-relações, ser de possibilidades, finito, e contigente, o homem auto-realiza-se como pessoa.Como pessoa, o homem é sujeito, ser consciente e livre.É uma substância espiritual como liberdade pessoal.