quarta-feira, 2 de julho de 2008

PLATÃO. A República. Livro VII, capítulo VII.

Sócrates - Agora compara com a seguinte situação o estado de nossa alma relativamente à educação ou à falta desta. Imagina urna caverna subterrânea provida de vasta entrada aberta para a luz e que se estende ao largo de toda a caverna, e uns homens que lá dentro se acham desde meninos, amarrados pelas pernas e pelo pescoço de tal maneira que tenham de permanecer imóveis e olhar tão só para a frente, pois as ligaduras não lhes permitem voltar a cabeça; atrás deles e num plano superior arde um fogo a certa distância, e entre o fogo e os encadeados há um caminho elevado, ao largo do qual faze de conta que tenha sido construído um pequeno muro semelhante a esses tabiques que os titeríteiros colocam entre si e o público para exibir por cima deles as suas maravilhas.
Glauco - Vejo.
Sócrates - E não vês também homens que passam ao longo desse pequeno muro,
carregando toda espécie de objetos, cuja altura ultrapassa a da parede, e estátuas e figuras de animais feitas de pedra, de madeira e outros materiais? Alguns desses carregadores conversam entre si, outros marcham em silêncio.
Glauco - Tu me apresentas urna imagem estranha e estranhos prisioneiros!
Sócrates - Semelhantes a nós. Não te parece que os prisioneiros só tenham
podido ver deles mesmos e daqueles que os rodeiam, as Sombras projetadas pelo fogo sobre a parede fronteira da caverna?
Glauco - Como não, se são obrigados a manter imóveis as cabeças durante toda
a vida?
Sócrates - E dos objetos transportados, não veriam apenas igualmente as sombras?
Glauco - Sim. Sócrates - Ora, se pudessem falar uns com os outros, não julgariam estar
referindo-se às coisas que vêem como se fossem idênticas às coisas que passam?
Glauco - É lógico. Sócrates - E se o cárcere tivesse ressonâncias, quando algum dos passantes
falasse, não pensas que eles julgariam que o que falava era a sombra?
Glauco - Por júpiter, certamente. Sócrates - Para eles, pois, a verdade, literalmente, nada mais seria do que as
sombras dos objetos fabricados.
Glauco - Sem dúvida! Sócrates - Torna a olhar agora e examina o que naturalmente sucederia se os
prisioneiros fossem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. A princípio, se alguém fosse libertado e obrigado a caminhar imediatamente, a mover a cabeça, a caminhar e a dirigir os olhos para a luz, e sentisse dor por causa de tudo isso, e, por causa do brilho fulgurante, não conseguisse olhar para aqueles objetos dos quais até então via as sombras, que pensas que ele diria se alguém falasse com ele? Que antes via coisas de nada e que agora está mais perto da realidade e voltado para aquele que tem mais realidade, vê coisas mais claras? E assim ainda mostrando- lhe cada urn dos objetos que passam, o obrigasse a responder que coisa é, não pensas que hesitaria e julgaria as coisas vistas antes mais verdadeiras do que as que lhe são mostradas agora?
Glauco - Certamente. Sócrates - E se ele fosse obrigado a olhar para a própria luz, seus olhos se
ressentiriam e ele a evitaria, virando-se para trás, para aqueles objetos que pode olhar e julgaria a estes muito mais claros do que aqueles que lhe são mostrados?
Glauco - Isto mesmo. Sócrates - E se o levassem dali pelas asperezas e pela subida íngreme, e não o
deixassem livre antes de tê-lo conduzido à luz do sol, não lhe faria mal e ele não se lamentaria enquanto é conduzido fora e quando chega à luz ou, com os olhos cheios de esplendor, poderia talvez ver algum daqueles objetos que agora são chamados verdadeiros?
Glauco - Certamente não, pelo menos no primeiro momento. Sócrates - Penso que normalmente seria necessário ver os objetos que estão em
cima e depois disso, as imagens dos homens e das coisas nas águas, depois os homens e as coisas mesmas. Depois destes poderá com menor dificuldade observar durante a noite os corpos celestes; assim será mais fácil contemplar de noite a luz dos astros e da lua do que de dia o sol e o seu brilho.
Glauco - Corno não? Sócrates - E por último, penso estaria em condições de ver o sol - nas suas
imagens refletidas na água ou em qualquer outro lugar que não seja o seu, mas o próprio sol em seu domínio e tal qual é em si mesmo. Glauco - Evidentemente.

PLATÃO. A República. Livro VII, capítulo VII. In: MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Vol. 1. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 1981, p. 65-67.

5 comentários:

Anônimo disse...

POw muito bom mesmo , só com esse resumo j vai dar pra estudar bastante ...
valeu

Rui Miguel disse...

Olá anônimo
Cre4io que será mais util agora no seg. trim.
Sabes o q é ou o apelido p/ anônimo?
valeu

By Mαℓℓυ disse...

Adoreei !Nossa, muito interessante, e beem esplicado ! Vai me ajudar bestante na minha pesquisa, pois não estava achaando nada parecido, nem a altura ! Beijoos Malu

juniffer Schwyzzner disse...

prof eu andei lendo algumas coisas pela net e ainda não consegui entender o por que da alaegoria da caverna está no livro da republica . O senhor pode me ex plicar ???

Anônimo disse...

vlw ai