terça-feira, 21 de abril de 2009

Florestas correm risco de parar de 'filtrar' carbono, diz estudo


 

O papel das florestas de atuar como filtros gigantes de carbono está sob o risco de "ser totalmente perdido", segundo um relatório compilado por alguns dos maiores cientistas florestais do mundo.

O documento compilado por 35 profissionais da União Internacional das Organizações de Pesquisas Florestais (IUFRO, na sigla em inglês) afirma que as florestas estão sob um crescente estresse como resultado das mudanças climáticas.

Ainda segundo o relatório, as florestas podem começar a liberar uma enorme quantidade de carbono na atmosfera se as temperaturas do planeta subirem 2,5ºC acima dos chamados níveis pré-industriais.

As descobertas serão apresentadas no Fórum da ONU sobre Florestas, que começa nesta segunda-feira, em Nova York, e estão sendo descritas como sendo a primeira avaliação mundial da capacidade das florestas se adaptarem às mudanças climáticas.

Seca e pobreza

"Normalmente, pensamos nas florestas como 'freios' do aquecimento global", disse à BBC Risto Seppala, do Instituto de Pesquisa Florestal da Finlândia e presidente do painel de especialistas.

"Mas nas próximas décadas, os danos provocados pelas mudanças climáticas podem fazer com que as florestas comecem a liberar uma enorme quantidade de carbono, criando uma situação em que elas contribuirão mais para o aceleramento do aquecimento do que ajudarão a reduzi-lo."

Os cientistas esperam que o relatório ajude a informar os profissionais envolvidos nas negociações sobre as políticas ambientais.

O documento destaca ainda outros fatos novos, como a projeção de que as secas devem se tornar mais intensas e frequentes nas florestas subtropicais e temperadas do sul, e de que as plantações comerciais de madeira podem se tornar inviáveis em algumas áreas.

O relatório diz também que as mudanças climáticas podem "aprofundar a pobreza, deteriorar a saúde pública e aumentar os conflitos sociais" entre as comunidades da África que dependem das florestas.

Andreas Fischlin, do Instituto Federakl Suíço de Tecnologia, e co-autor do estudo, ressalta, no entanto, que mesmo que se implemente todas as medidas necessárias, as mudanças climáticas podem ainda neste século exceder a capacidade adaptativa de muitas florestas".

"A única maneira de assegurar que as florestas não sofram danos sem precedentes é conseguir fazer uma enorme redução nas emissões dos gases de efeito estufa", concluiu.

domingo, 19 de abril de 2009

NOSSA CULTURA MIMA OS ADOLESCENTES

Nossa cultura mima os adolescentes – é o título da Entrevista publicada em Carta na Escola com a psicanalista, Maria Rita Kehl. Segue para reflexão alguns trechos.


"o professor precisa aprender a valorizar seu capital intelectual, que não tem preço..."


1 – sobre conflitos existentes dentro da escola.

"... tenho impressão que a escola negociou demais. (...) Acho que houve um mal-entendido, lá pelos anos 60. Não que não tenha sido importante ter tido uma abertura e uma mudança curricular depois dessa década, já que a escola não podia ficar rígida e fechada como era antes. Mas o que tornou a escola um pouco sem sentido, para os alunos e professores, é que se negociou demais. E isso não é culpa da escola, mas é fruto de uma cultura que mima a criança e o adolescente, principalmente o adolescente. Ele é a fatia privilegiada do mercado, é o consumidor por excelência, porque está sempre mudando. (...) Então, os professores não sabem mais o que estão ensinando, porque eles estão ensinando coisas que seus alunos não querem aprender. Mas a escola sempre foi obrigação e pouca gente ia para ela porque adorava. E essa pergunta: "Para que serve aprender isso, para que serve aprender aquilo?", também era feita. Mudanças curriculares podem ser importantes, mas eu acho que, se a escola negocia demais sua posição, que é de formadora de socialização, mais do que de conhecimento, fica muito difícil sustentar-se diante do aluno, porque o professor passa a não ver mais sentido no que faz, porque, se a televisão é importante, se os videogames são interessantes e qualquer site ensina mais do que uma aula, para que serve a escola?"


2 – sobre o papel preponderante da escola: seria de formadora da socialização?
"Eu ainda acho que a escola é um aprendizado de convívio civilizado, da negociação de interesses e reconhecimento de quem se deve respeitar e como respeitar. Conheci uma escola pública de São Paulo no ano passado, chamada Amorim Lima e fiquei impressionada porque é uma escola que, de um jeito muito progressista, nada rígido ou conservador, não negocia determinadas coisas. Criou um ambiente regrado, que para os alunos é um alívio. Não são regras rígidas, porque na conversa que tive eles disseram: "A gente sabe dessas regras, porque nós as escrevemos no mural". Quer dizer, eles criaram um modo de convívio que mantém o papel educativo formador da escola e leva em consideração que os alunos, hoje em dia, não são robôs aterrorizados com medo de palmatória e de ir à sala do diretor. E acho que isso é uma questão para os pais também. O que é que sustenta o exercício da autoridade em uma sociedade tão aberta e democrática como a nossa? É diferente um professor que exerce a autoridade em nome da ordem, de Deus e das tradições, como acontecia nas escolas antigamente."


3 – sobre autoridade do professor.
"O professor não está escorado por todos esses pilares de mármore, felizmente não está, mas, ao mesmo tempo, ele tem uma posição de autoridade. Eu acho que a minha geração sofreu muito com a ditadura e ficou com horror do autoritarismo, passando a fazer uma confusão entre autoridade e autoritarismo. O autoritarismo é totalmente arbitrário, desmedido, punitivo e cruel. Autoridade é o exercício de uma diferença de posição que tem a ver com gerações, pais e filhos, professores e alunos, e que se exerce para, a partir daí, ter o que negociar. Porque, se não, é a desmoralização da escola. O filme do João Jardim, Pro Dia Nascer Feliz, é muito impressionante, porque vemos a diferença de postura. Mesmo em escolas públicas muito pobres há alguns professores que acreditam no que estão fazendo e seguem alguma coisa e outros que negociam tudo. No filme havia uma escola do Rio que tinha um aluno que estava totalmente fora dela e o pessoal continuava negociando com ele. É aí que a escola perde a "borda". É aquele medo de não perder o aluno e com isso se perde a escola toda."


4 – sobre sociedade de consumo e a questão do consumo em sala de aula.
"Nunca esteve tão forte como ideologia. Não sei se estamos no auge do consumismo, mas sob o aspecto da ideologia, da crença profunda de que você vale o quanto você consome, essa crença é muito arraigada." / "Se pensarmos o que é a tradição do intelectual, que é mais europeia do que brasileira, ele não é, necessariamente, um cara que está no topo econômico da sociedade. O intelectual é alguém que, de certa forma, se considera elite, na medida em que tem um patrimônio cultural valiosíssimo. Por isso acho que seria muito interessante que os professores se apropriassem desse valor, de que eles são detentores de um patrimônio cultural que não tem preço. E é isso que eles vão transmitir. Porque ouço que muitos alunos dizem: "Você é um zé-mané que não ganha nem para trocar de carro, e quer mandar em mim?", principalmente em escolas particulares. Se o professor tiver engolido essa crença que ele vale pelo que pode comprar, sairá arrasado de um confronto desses. Agora, se ele puder dizer: "O que eu tenho você vai ter de suar muito para obter e posso te transmitir se você aprender a me respeitar", é outra história."


5 – sobre excesso de negociação e aprendizagem prazerosa.
"...a revolução dos anos 60, que, se teve um lado muito interessante, teve um outro que se tornou completamente indulgente em relação às crianças e jovens. Lembro de um livro do Gramsci, Literatura e Vida Nacional, no qual ele faz um elogio da escola, muito engraçado e antigo para nós, dizendo: "A escola nos ensina coisas que vão ser úteis para o resto de nossas vidas, como, por exemplo, ficar sentado quatro horas ouvindo sobre um assunto". Quer dizer, tem algo que é precioso na escola, que é se concentrar, prestar atenção e acompanhar um raciocínio longo. Eu briguei muito em uma escola em que meu filho estudava, porque eles não davam livros para os alunos do Ensino Médio. Eu questionava porque eles não davam a oportunidade de eles lerem livros e eles diziam que os alunos não eram capazes de acompanhar. Mas é a escola que tem de torná-los capazes de acompanhar, quer dizer, se a escola vem com esse paternalismo de que é difícil demais para eles, eles não serão capazes de acompanhar mesmo. E isso começou com esse processo, demasiado, de negociação.

6 - sobre campanhas antidrogas, legalização e tráfico.

A primeira coisa que me vem é um artigo do Eugênio Bucci, no qual ele diz: "O que vale uma campanha contra as drogas se todo o resto da publicidade é a favor das drogas?" Aí você pensa que nunca viu publicidade de cocaína e maconha. Não, mas todas as publicidades dirigidas aos jovens fazem apologia do "barato" e depois vem uma dizendo, em 30 segundos, "droga não". Há uma de vodca, por exemplo, onde se vê uma paisagem cinzenta e através da garrafa a paisagem se transformava numa praia maravilhosa. Ou então, o cara come uma pastilha e flutua. Tudo é brincadeira, sem dúvida, mas é uma permanente convocação ao "barato". E, como a gente se acomoda rapidamente, a dose deve ser aumentada, a dose do "barato" e da imagem do "barato". E depois vai dizer que é para não se drogar? A sociedade está convocando o jovem a viver "de barato" permanentemente. Ele veste um tênis e pula, como se ele tivesse usado LSD. É tudo muito divertido, pensando friamente. Mas o convite que a sociedade de consumo faz ao jovem é o do mercado do "barato". Então, eu sou a favor de legalizar, mesmo porque se legalizar vai morrer menos gente de overdose do que morre de efeito colateral da violência do tráfico. O problema principal social do País hoje é o tráfico de drogas. E, certamente, quem tem menos interesse na legalização das drogas, hoje em dia, são os chefes do tráfico.
FONTE:
http://www.cartanaescola.com.br/edicoes/34/nossa-cultura-mima-os-adolescentes



quarta-feira, 8 de abril de 2009

Neo e Sócrates

Por que as personagens do filme afirmam que Neo é "o escolhido"? Por que eles estão seguros de que ele será capaz de realizar o combate final e vencer a Matrix?

Porque ele era um pirata eletrônico, isto é, alguém capaz de invadir programas, decifrar códigos e mensagens, mas, sobretudo porque ele também era um criador de programas de realidade virtual, um perito capaz de rivalizar com a própria Matrix e competir com ela. Por ter um poder semelhante ao dela, Neo sempre desconfiou que a realidade não era exatamente tal como se apresentava. Sempre teve duvidas sobre a realidade percebida e secretamente questionava o que era a Matrix. Essa interrogação o levou a vasculhar os circuitos internos da maquina (tanto assim que começou a ser perseguido por ela como alguém perigoso) e foram suas incursões secretas que o fizeram ser descoberto por Morfeu.
Por que Sócrates é considerado o "patrono da Filosofia"? Porque jamais se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade, com as crenças inquestionadas de seus conterrâneos. Ele costumava dizer que era impelido por um espírito interior (como Morfeu instigando Neo) que o levava a desconfiar das aparências e procurar a realidade verdadeira de todas as coisas. Sócrates andava pelas ruas de Atenas fazendo aos atenienses algumas perguntas: "O que é isso em que você acredita?", "O que é isso que você esta dizendo?", "O que é isso que você esta fazendo?". Os atenienses achavam por exemplo, que sabiam o que era justiça. Sócrates lhes fazia perguntas de tal maneira sobre a justiça, embaraçados e confusos, chegavam a conclusão de que não sabiam o que ela significava. Os atenienses acreditavam que sabiam o que era coragem. Com suas perguntas incansáveis, Sócrates os fazia concluir que não sabiam o que significava a coragem. Os atenienses acreditavam também que sabiam o que eram a bondade, a beleza, a verdade, mas um prolongado dialogo com Sócrates os fazia perceber que não sabiam o que era aquilo que acreditavam.
A pergunta "O que é?" era o questionamento sobre a realidade essencial e profunda de uma coisa para alem das aparências e contra as aparências. Com essa pergunta, Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença entre parecer e ser, entre mera crença ou opinião e verdade.
Sócrates era filho de uma parteira. Ele dizia que sua mãe ajudava o nascimento dos corpos e que ele também era um parteiro, mas não de corpos e sim de almas. Assim como sua mãe lidava com a matrix corporal, ele lidava com a matrix mental, auxiliando as mentes a libertar-se das aparências e buscar a verdade.
Como os de Neo, os combates socráticos eram também combates mentais ou de pensamentos. E enfureceram de tal maneira os poderosos de Atenas que Sócrates foi condenado a morte, acusado de espalhar duvidas sobre as idéias e os valores atenienses, corrompendo a juventude.
O paralelo entre Neo e Sócrates não se encontra apenas no fato de que ambos são instigados por "espíritos" que os fazem desconfiar das aparências nem apenas pelo encontro com um oráculo e o "Conhece-te a ti mesmo" e nem apenas porque ambos lidam com matrizes. Podemos encontrá-lo também ao comparar a trajetória de Neo até o combate final no interior da Matrix e em uma das mais celebres e famosas passagens de um escrito de um discípulo de Sócrates, o filósofo Platão. Essa passagem encontra-se numa obra intitulada A Republica e chama-se "O mito da caverna".

domingo, 5 de abril de 2009

Momento Cult ...--> Monólogo das Mãos

Monólogo das Mãos

de Ghiaroni


Para que servem as mãos?
As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder,
ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar,
confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar,
acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir,
reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever......
As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau,
salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário;
Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não
matou Porcena;
foi com as mãos que Jesus amparou Madalena;
com as mãos David agitou a funda que matou Golias;
as mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos
gladiadores vencidos na arena;
Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência;
os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos
vermelhas como signo de morte!
Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os
outros Judas não encontram.
A mão serve para o herói empunhar a espada e
o carrasco, a corda; o operário construir e o burguês destruir;
o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar e o ladrão roubar;
o honesto trabalhar e o viciado jogar.
Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor
ou uma granada, uma esmola ou uma bomba!
Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!
As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios
e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura,
a arma que fere e o bisturi que salva.
Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas
protegemos a vista para ver melhor.
Os olhos dos cegos são as mãos.
As mãos na agulheta do submarino levam o homem
para o fundo como os peixes; no volante da aeronave
atiram-nos para as alturas como os pássaros.
O autor do "Homo Rebus" lembra que a mão foi o primeiro
prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida;
a primeira almofada para repousar a cabeça,
a primeira arma e a primeira linguagem.
Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.
A mão aberta,acariciando, mostra a bondade; fechada
e levantada mostra a força e o poder; empunha a espada
a pena e a cruz!
Modela os mármores e os bronzes; da cor às telas
e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia
nas formas eternas da beleza.
Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza;
doce e piedosa nos afetos medica as chagas, conforta
os aflitos e protege os fracos.
O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão
de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento
de felicidade.
O noivo para casar-se pede a mão de sua amada;
Jesus abençoava com a s mãos;
as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as
mãos as cabeças inocentes.
Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica,
ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.
Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.
E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.
Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera que continuam na morte as funções da vida.
E as mãos dos amigos nos conduzem...
E as mãos dos coveiros nos enterram!