terça-feira, 30 de junho de 2009

Platão – Grande Educador – Parte II

Muitas ideias suas, embora tenham até certo ponto atenuado o seu caráter radical na sua obra tardia As Leis, continuam sendo um desafio. Não era amigo da democracia, que considerava um "governo agradável, anárquico e variegado". Rejeitava o casamento e propunha que "todas as mulheres fossem comuns a todos os homens, que nenhuma fosse própria de nenhum homem, que os filhos fossem comuns, de modo que o pai não conhecesse seu filho, nem o filho o seu pai". Neste manacial da vida de Platão, desaparece qualquer direito do indivíduo à liberdade e ao resguardo da privacidade. Não são os homens e mulheres que decidem quem deve gerar filhos para o Estado, com quem, quando, onde e quantas vezes, mas só as autoridades do Estado. Conforme foi observado acima, Platão não conseguiu realizar seu Estado ideal. Mas se tal Estado pudesse existir, eu não gostaria de viver nele nem mesmo uma hora sequer!

Se considerarmos o espiritualismo de Platão, segundo o qual só se deve cuidar da alma e não do corpo, "esta massa de carne destinada à sepultura", e pensarmos na influência deste filósofo sobre o cristianismo, entendemos por que o dogma talvez mais cristão, o da ressurreição da carne, quase não tenha vitalidade na consciência de tantos cristãos, até hoje.

Todavia, estes e outros aspectos controversos da obra de Platão não conseguem obscurecer a sua contribuição perene para a concepção do homem ocidental e sua educação. Aguçar o olho do espírito, a disposição para a conversão, naturalmente não só da alma, mas do homem todo, e a capacidade de emancipar-se de si mesmo permanecem tarefas sempre válidas, que Platão percebeu e formulou por primeiro entre os pensadores europeus. "Vencer-se a si mesmo" é "a primeira e mais nobre de todas as vitórias, sucumbir a si mesmo é a derrota pior e mais vergonhosa de todas".

O êxito do auxílio que um pode prestar ao outro na aprendizagem dessa capacidade permanece incerto e sujeito a fracassos, fato que Platão experimentou dolorosamente. Esta experiência marcou seu julgamento dos homens. Numa de suas cartas diz que, embora o homem não seja um ser mau, contudo, salvo poucas exceções, é um ser volúvel e inconstante.



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