A herança francesa do Iluminismo e as ondas de choque da Revolução Francesa levaram Auguste Comte em seu quinto volume do Curso de Filosofia Positiva (1830-1842) a examinar a solicitação por uma disciplina dedicada ao estudo científico da sociedade . Comte quis chamar essa disciplina de “física social” para enfatizar que estudaria a natureza fundamental do universo social, mas ele foi praticamente forçado a determinar o termo híbrido greco-latino, sociologia.
“As múltiplas controvérsias entre os sociólogos” praticamente desaparecem quando se trata de determinar a “paternidade” da sua disciplina. Quase todos eles concordam que a Sociologia começa com a obra de Augusto Comte (1798 – 1857). Além de cunhar o nome da nova ciência, foi de Comte a primeira tentativa de definir-lhe o objeto, seus métodos e problemas fundamentais; bem como a primeira tentativa de determinar-lhe a posição no conjunto das ciências.” (GALLIANO, 1981, p.30)
O problema central para a sociologia era aquele que tinha sido articulado pelos pensadores mais antigos do Iluminismo: como a sociedade deve ser mantida unida quando se torna maior, mais complexa, mais variada, mais diferenciada, mais especializada e mais dividida? A resposta de Comte foi que as idéias e as crenças comuns precisavam ser desenvolvidas para dar à sociedade uma moralidade "universal”. Essa resposta nunca foi desenvolvida, mas a preocupação com os símbolos e a cultura, como uma força unificadora para manter a essência do conceito sociológico francês, existe até os dias de hoje.
Uma tática que Comte empregou para fazer com que a sociologia parecesse legítima foi postular a lei dos três estados, na qual o conhecimento está sujeito, em sua evolução, a passar por três estados diferentes. O primeiro estado é o teológico, em que o pensamento sobre o mundo é dominado pelas considerações do sobrenatural, religião e Deus; o segundo estado é o metafísico, em que as atrações do sobrenatural são substituídas pelo pensamento filosófico sobre a essência dos fenômenos e pelo desenvolvimento da matemática, lógica e outros sistemas neutros de pensamento; e o terceiro estado é o positivo, em que a ciência, ou a observação cuidadosa dos fatos empíricos, e o teste sistemático de teorias tornam-se modos dominantes para se acumular conhecimento. E com o estado positivo o conhecimento pode Ter utilidade prática a fim de melhora as vidas das pessoas.
A sociedade como um todo, bem como o pensamento sobre cada domínio do universo, evolui através desses três estágios, mas em velocidades diferentes: a astronomia e a física primeiro, depois a química e a biologia, e finalmente a sociologia surge como o último modo de pensar para entrar no estado positivo. Na visão de Comte, a análise da sociedade estava pronta para ser reconhecida comociência - uma reivindicação que era desafiada na época de Comte, assim como ainda hoje. E como as leis da organização humana eram desenvolvidas, Comte (1851-1854) acreditava que elas poderiam ser usadas para melhorar a condição humana - novamente, um tema tão controverso hoje quanto na época de Comte.
Uma segunda tática legítima empregada por Comte foi postular a hierarquia das ciências, na qual todas as ciências eram ordenadas de acordo com sua complexidade e seu desenvolvimento no estado positivo. Na parte inferior da hierarquia estava a matemática, a língua de todas as ciências mais altas na hierarquia, e no topo, surgindo da biologia, estava a sociologia, que num momento de êxtase Comte definiu como “ciência da humanidade”, coroamento de toda a formação científica. Pois, se a sociologia foi a última ciência a surgir, era também a mais avançada em relação a seu assunto, como um modo legítimo de questionamento.
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