domingo, 22 de junho de 2008

A CONSTRUÇÃO DOS MITOS NO PASSADO E NO PRESENTE

Desde a Antiguidade, os diferentes povos e culturas buscavam explicar os fenômenos da natureza e dar um sentido à própria vida. Esse desejo do ser humano de tentar explicar e entender a origem e o fim das coisas existentes nesse primeiro momento da história foi denominado de MITO.

No passado, no contexto da cultura ocidental, os gregos foram os que mais se destacaram no campo da mitologia, além de suas influências culturais em outras áreas do conhecimento. Na cultura ocidental o mito tornou-se, assim, o primeiro instrumento que desvendou os mistérios do mundo e traduziu os primeiros entendimentos do ser humano sobre a realidade. O mito, num primeiro conceito original, consiste numa narrativa fantasiosa, fantástica sobre a realidade, sobre o mundo. A palavra mito, no sentido etimológico, provém do grego e quer dizer contar, narrar, falar, anunciar, conversar. O mito, então, caracteriza-se, principalmente, por esse discurso imaginário e fictício de buscar explicações sobre os aspectos essenciais da realidade, como por exemplo: a origem do mundo, o funcionamento da natureza, as origens do ser humano e dos seus valores. O mito passava de geração a geração através da narrativa de uma pessoa, urna autoridade dentro da comunidade que inspirava confiança e fidelidade.

A simbologia dos mitos


A mitologia como o conjunto de mi- tos, de lendas e crenças integrantes da cultura de um povo utilizava elementos simbólicos e sobrenaturais para explicar a realidade. Os apelos ao mistério, ao sobrenatural, ao sagrado, à magia constituem elementos centrais da mitologia. Por exemplo, na mitologia grega, além dos deuses imortais (Zeus, Hera, Ares, Atena etc.), cultuavam-se heróis ou semideuses, que eram filhos de um deus com urna pessoa mortal. Os gregos criaram numerosas histórias baseadas numa rica mitologia. Para os gregos, os deuses presidiram a origem do universo e geraram semideuses, heróis e monstros. Os grandes deuses habitavam o monte Olimpo e destacam-se os seguintes: Héstia (deusa do lar), Crono e Réia (os primeiros deuses), Hades (deus do inferno), Deméter (deusa da agricultura), Zeus (deus do céu e senhor do Olimpo), Hera (esposa de Zeus), Posêidon (deus dos mares), Ares (deus da guerra), Atena (deusa da inteligência), Afrodite (deusa do amor e da beleza), Dionísio (deus do prazer; da aventura, do vinho) , Apoio (deus do sol, das artes e da razão), Artemis (deusa da lua, da caça e da fecundidade animal), Hefestos (deus do fogo, patrono dos metalúrgicos) , Hermes (deus do comércio e das comunicações).
A mitologia grega surgiu para representar algumas funções sociais: a função de explicar e tranqüilizar as pessoas di- ante dos mistérios da natureza e a função de regular e ordenar a ação humana. A explicação mítica, todavia, não se justifica, nem se fundamenta, nem se presta ao questionamento. O pensamento mítico requer a adesão e a aceitação das pessoas sem qualquer critica ou correção. Não há discussão sobre os mitos, pois eles são aceitos pela cultura como a própria visão de mundo.

Apelo à reflexão

Na atualidade, muitas questões sobre os fenômenos da natureza física e humana são explicados

através do conhecimento filosófico e científico. Por exemplo: a pergunta sobre a origem do universo. A ciência, hoje, através das pesquisas explica e mostra na experiência a resposta para este problema. Todavia, os avanços na área da filosofia e do próprio conhecimento científico não inibiram os mitos.

O mito continua a ser uma expressão viva com suas funções sociais semelhantes à mitologia grega. Hoje, ainda estão presentes questões sobre a origem da vida e a vida após a morte. O mito, hoje, aparece também através dos meios de comunicação social. Por exemplo: quando a mídia apresenta modelos de moda, corpo, comportamento etc. Esses símbolos representam referenciais imaginários para os vários tipos de desejos, de anseios, emoção: o sucesso, o poder, o sexo, o prazer, a ganância... Em diversos filmes e romances da televisão criam-se mitos de heróis que representam a superioridade racial, tecnológica e financeira. Citam-se, como exemplo, vários filmes americanos em que o personagem do filme manifesta lições morais e aparece como semideus, imortal.

Observa-se que no presente, o ser humano continua envolto por muitos mitos. O pensamento mítico continua construindo explicações imaginárias, fantásticas da realidade. Propõem-se diante disso um apelo ao exercício da reflexão sobre si mesmo e sobre a realidade. Analisar e refletir são duas habilidades do ser humano. Torna-se uma questão de hábito, de costume. Basta um pouco de admiração diante das coisas e não aceitar tudo como evidente, óbvio, claro. A reflexão pode se tornar urna alternativa eficaz para detectar e decifrar os mitos da atualidade.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

El Mito de la Caverna

Com a obrigatoriedade das aulas de filosofia no ensino médio, cursinhos correm contra o tempo para preparar os candidatos

Tem Platão nas apostilas

Com a obrigatoriedade das aulas de filosofia no ensino médio, cursinhos correm contra o tempo para preparar os candidatos (Marta Reis)
RIO - Platão ganhou as apostilas dos cursinhos pré-vestibulares. Com a confirmação da obrigatoriedade da filosofia no currículo do ensino médio na semana passada, por uma lei nacional (que adicionou também a sociologia aos programas), cada vez mais universidades devem incluir a disciplina nas provas dos próximos anos.
O curso Qi montou um programa para o segundo semestre, com leitura e discussão de textos filosóficos voltados para o exame da UFRJ, que incluiu uma prova não-específica da matéria, no ano passado, para Direito, História, Filosofia, Música e Ciências Sociais. Além da federal ter adotado a disciplina em seu vestibular, várias escolas já têm aulas do tema, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação previa, há algum tempo, filosofia e sociologia no ensino médio.
A UFF também promete uma prova específica da disciplina para os candidatos ao curso de filosofia neste ano e questões nas provas de história, geografia e língua portuguesa em todas as carreiras. Na Uerj, as questões de filosofia estão diluídas nos exames de qualificação.
- A idéia é manter a receita do ano passado que deu certo. Espero uma prova talvez um pouco mais complicada neste concurso, mas acredito que a UFRJ pegue leve nesses primeiros vestibulares - afirma Ricardo Camelier, diretor do Qi.
Espero uma prova talvez um pouco mais complicada neste concurso, mas acredito que a UFRJ pegue leve nesses primeiros vestibulares (R. Camelier, do Qi)
No curso Miguel Couto, a preparação dos alunos também vai se intensificar nos próximos meses com aulas aos domingos. Segundo Hélcio Gomes, coordenador pedagógico, os professores privilegiam a linha filosófica cartesiana -- que inclui textos como "Discurso do método", de Descartes - que é a mesma do Instituto de Filosofia da UFRJ.
- Mas não podemos deixar de trabalhar autores como Platão, Kant e Hegel. Nas aulas, o professor lê os textos, faz a apreciação dos termos mais complicados, explica os principais pontos e, depois, formula questões para os candidatos resolverem. É a melhor forma de prepará-los para uma prova que não é "conteudista" , como é o caso da UFRJ e deve ser o da UFF - esclarece Gomes.
Já no pH, os vestibulandos têm uma aula de duas horas da disciplina por semana.
- Eu também preparei uma apostila com uma seleção de textos que considero importantes, como "Meditações metafísicas", de Descartes, e "Alegoria da caverna", de Platão. A partir da leitura, os candidatos exercitam a interpretação - diz Rafael Barreto, professor de filosofia do pH.
Barreto aposta que a UFRJ deve cobrar neste vestibular alguns temas da filosofia como estética, presentes no edital do último concurso, mas que ficaram fora do exame.
O conteúdo dos exames:
UFRJ: A universidade federal adotou a prova de filosofia não-específica no processo seletivo passado apenas para os candidatos aos cursos do grupo 6: Música, Ciências Sociais, Direito, Filosofia e História.
O QUE ESTUDAR NESTE ANO: A comissão de vestibular indica que os alunos devem estudar os seguintes pontos: conceituação de filosofia; noções de lógica; o problema do conhecimento na filosofia (racionalismo, empirismo e ceticismo); estética; filosofia prática (ética, a questão do bem e do mal) e política (estado, sociedade e poder).
UFF: A federal fluminense vai incluir uma prova específica para aqueles que tentam uma vaga no curso de Filosofia. Na prova de múltipla escolha da primeira etapa, as questões de filosofia estarão diluídas nas provas de história, geografia e língua portuguesa para todas as carreiras.
O QUE ESTUDAR NESTE ANO: Os candidatos devem estar preparados para perguntas sobre filosofia greco-romana; filosofia da Europa medieval; filosofia da época moderna; racionalismo e empirismo; iluminismo; Kant e a crise da consciência moderna.
O Globo, 9 jun. 2008.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Hegel: "O senhor e o escravo"

O Senhor e o Escravo
Buscar a morte do outro implica em arriscar a própria vida. Por conseguinte, a luta entre duas consciências de si é determinada do seguinte modo: elas se experimentam a elas próprias e entre si por meio de uma luta de morte. Não podem evitar essa luta, pois são forçadas a elevar ao nível da verdade sua certeza de si, sua certeza de existir para si; cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra. Só arriscando a própria vida é que se conquista a liberdade. Só assim é que alguém se assegura de que a natureza da consciência de si não é o ser puro, não é a forma imediata de sua manifestação, não é sua imersão no oceano da vida. Essa luta prova que nada existe na consciência que não seja perecível para ela, prova que ela, portanto, não é senão puro ser para-si. O indivíduo que não arriscou sua vida pode certametne ser reconhecido como pessoa, mas não atingiu a verdade desse reconhecimento como consciência de si independente. (¹)
O senhor é a consciência que é por si mesma, mas essa consciência, aqui, está além de seu puro conceito: ela é consciência para-si que é mediada consigo mesma por uma outra consciência (²), notadamente por uma consciência cuja natureza implica no fato de ela estar unida a um ser independente ou às coisas em geral. O senhor está em relação com esses dois momentos: com a coisa enquanto tal, objeto do apetite, e com a consciência cujo caráter essencial é a coisa externa. Uma vez que o senhor (a), enquanto conceito da consciência de si, é relação imediata do ser para-si, mas (b) é simultaneamente mediação, em outras palavras, um ser para-si que só o é por meio do outro, ele se relaciona (a) imediatamente com os dois e (b) imediatamente com cada um por intermédio do outro. O senhor tem, com o escravo, uma relação mediata em virtude da existência independente, pois é precisamente a ela que o escravo está preso, ela é sua cadeia e da qual não pode se desprender na luta, o que o levou a mostrar-se dependente, posto que possuía sua independência numa coisa externa. Quanto ao senhor, ele é a potência que domina esse ser externo, pois provou na luta que o considera como puramente negativo; uma vez que ele domina esse ser e que esse ser domina o escravo, o senhor também o domina. Desse modo o senhor se relaciona com a coisa por mediação do escravo; este último, enquanto consciência de si, relaciona-se negativamente com a coisa e a ultrapassa; mas ao mesmo tempo a coisa é para ele independente e o escravo não pode, por meio de sua negação, chegar a suprimi-la; ele só faz trabalhar.
Em compensação, para o senhor, graças a essa mediação, a relação imediata torna-se a pura negação da coisa ou o seu gozo; aquilo que o apetite não conseguiu, ele o consegue; domina a coisa e se satisfaz na fruição. O apetite não chega a isso por causa da independência da coisa; mas o senhor, ao colocar o escravo contra ela e si próprio, só entra em contato com o aspecto dependente da coisa, fruindo-a puramente; deixa o aspecto independente da coisa para o escravo que a trabalha. (³)
(¹) Este difícil texto de é característico do método hegeliano. Ele inspirou amplamente as análises de nossos contemporâneos sobre as relações do eu com o outro. Na luta de duas consciências, Hegel examina simultaneamente a relação de dois "eu" e a relação de cada eu com sua própria vida. O "senhor", aquele que é vitorioso no combate, aceitou arriscar a vida. Por conseguinte, ele é mais do que ela, por sua coragem colocou-se acima dos objetos comuns da necessidade e da existência empírica. O vencido, aquele que se rendeu, tem medo de perder a vida. Por conseguinte, ele é, de início, escravo da vida e de seus objetos empíricos. Torna-se tembém escravo do senhor que o conserva (servus = conservado) a fim de ler em seu olhar temeroso e submisso o reflexo de sua vitória, a fim de se fazer reconhecer como consciência.
(²) Hegel quer dizer que o senhor não é senhor "em-si", mas por meio de uma mediação, isto é, uma relação. O senhor se define por sua relação com o escravo (e por sua relação com os objetos que depende, ela própria, da relação com o escravo). No ponto de partida, o senhor domina os objetos da necessidade, posto que no campo de batalha ele se mostrou corajoso, superior à sua vida, portanto, aos objetos das necessidades. Secundariamente, o senhor domina os objetos por mediação do escravo que trabalha, isto é, que transforma os objetos materiais em objetos de consumo e de fruição para o senhor.
(³) Graças ao trabalho do escravo, a relação do senhor com a coisa é uma relação de simples gozo que equivale à negação da coisa. Pensamos nos versos de Valéry:
Como o fruto se funde em fruição
Como em delícias ele muda sua ausência
Numa boca em que sua forma se extingue.
Concepção Dialética da História da Filosofia
Em suas lições sobre a história da filosofia, Hegel assinalava que a noção de História da Filosofia "envolve uma contradição interna". Com efeito, "a filosofia quer conhecer o imperecível, o eterno, seu fim é a verdade. Mas a história conta o que foi numa época e que desapareceu em outra, substituído por outra coisa". Se a verdade é eterna, "ela não penetra na esfera do que passa e não tem história". Entretanto, a filosofia encontra-se toda nos sistemas dos filósofos. A idéia geral de filosofia permanece abstrata se não se confunde com os diversos sistemas dos filósofos no decurso da história, assim como a noção geral de fruto só se explicita quando efetivamente se trata de "cerejas, ameixas ou uvas". Na realidade, cada filosofia corresponde a um momento da história, a uma etapa na conquista do espírito absoluto. Cada filosofia é "o espírito da época existente como espírito que se pensa". Ela surge "no devido momento, nenhuma ultrapassou seu tempo" (¹). As filosofias sucessivas não se refutam, mas as novas filosofias mostram as anteriores como verdades parciais passíveis de serem integradas numa síntese mais ampla que se elabora com o tempo. A história da filosofia oferece momentos privilegiados ou, como diz Hegel, "nós" em que vêm se reconciliar dialeticamente os contraditórios. A filosofia de Platão, por exemplo, é a síntese do imóvel ser parmenídico com a mobilidade heracliteana.
Nesse sentido, citaremos um excerto das lições sobre a História da Filosofia:
A razão é una e essa racionalidade una, um sistema e, por isso, a evolução das determinações do pensamento é igualmente racional. Os princípios gerais surgem segundo a necessidade da noção fundamental. A posição dos precedentes é determinada pelo que se segue. O princípio de uma filosofia passa, na seguinte, para a categoria de um momento. Não se refuta uma filosofia, apenas sua posição é que é refutada. As folhas, de início, são o modo de existência mais elevado da planta, depois é o botão e o cálice que, em seguida, se transformam em envoltório a serviço do fruto; é assim que o primeiro elemento é colocado numa categoria inferior pelo seguinte.
As filosofias são as formas do Uno. Um estudo mais avançado mostrar-nos-á como progridem seus princípios, de maneira que o seguinte é uma nova determinação do precedente...
O estoicismo faz do pensamento um princípio, mas o epicurismo proclama vedadeiro o princípio diretamente oposto: o sentimento, o prazer para um, portanto, é o geral e para outro o particular, o individual: para o primeiro, é o homem pensante; para o segundo, o homem sensível. Somente sua reunião constitui a totalidade da noção e o homem, aliás, compõe-se dos dois elementos, do geral e do particular, do pensamento e da sensibilidade. Sua união é a verdade. Mas ambas se manifestam, uma após outra, opondo-se. O ceticismo é o princípio negativo que se eleva contra os dois precedentes; ele afasta o caráter exclusivo de um e outro, mas engana-se quando acredita os ter eliminado, pois ambos são necessários.
Desse modo, a essência da história da filosofia consiste em que princípios exclusivos transformam-se em momentos, em elementos concretos e se conservam, por assim dizer, num nó; o princípio das concepções subseqüentes é superior ou, o que dá no mesmo, mais profundo... A história de Platão não é um ecletismo, mas uma reunião das filosofias precedentes que então formam um todo vivo, uma união em uma viva unidade do pensamento...
É importante, antes de tudo, conhecer os princípios dos sistemas filosóficos e em seguida reconhecer cada um deles como necessário; sendo necessário, ele se apresenta em sua época como superior. Se se for mais adiante, a determinação precedente torna-se apenas um ingrediente da nova, ela é assumida sem ser rejeitada. Desse modo, todos os princípios são conservados. Assim, o Uno, a unidade, é o fundamento de tudo; aquilo que se desenvolve na razão progride na unidade dessa razão... Conhecer verdadeiramente um sistema é tê-lo justificado em-si. Limitar-se a refutar uma filosofia é não compreendê-la; é preciso ver a verdade que ela contém. Nada mais fácil do que criticar, do que ver em alguma parte o caráter negativo; isto é sobretudo gosto característico dos jovens, mas se só se vê a negação, ignora-se o conteúdo que, ele sim, é afirmativo; supera-se-o sem que se encontre no interior. A dificuldade consiste em ver o que os sistemas filosóficos contêm de verdadeiro; só quando são justificados em si próprios é que se pode falar de seu limites, de suas deficiências.
(¹) Encontramos essa idéia em Marx, num contexto materialista: "Os filósofos não brotam da terra como cogumelos, eles são os frutos de seu tempo, de seu povo, cujas forças mais sutis e mais ocultas se traduzem em idéias filosóficas. O mesmo espírito fabrica as teorias filosóficas na mente dos filósofos e constrói as estradas de ferro com as mãos dos operários. A filosofia não é exterior ao mundo".

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Dia histórico: sancionada a lei que torna obrigatória as disciplinas de Filosofia e Sociologia na Educação.

Dia histórico: sancionada a lei que torna obrigatória as disciplinas de Filosofia e Sociologia na Educação.
O presidente da República, em exercício, José Alencar, sanciona nesta segunda-feira, 2/06, às 16h00, no Salão de Atos do Palácio do Planalto, com a presença do Ministro da Educação Fernando Haddad e de grande público presente, a lei que torna obrigatório o ensino das disciplinas de Filosofia e Sociologia nas escolas de ensino médio, públicas e privadas. O Projeto de Lei nº. 1641/2003, do Dep. Ribamar Alves (PSB/MA), foi aprovado primeiro na Câmara dos Deputados, e no dia 8 de maio deste ano, no Senado.
A obrigatoriedade do ensino da Filosofia e Sociologia no currículo do ensino médio levaram o Congresso Nacional alterar o artigo 36 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A obrigatoriedade, segundo a
lei, entra em vigor a partir da sua publicação no Diário Oficial da União.
Com a concretização de muitas lutas e discussões, nesse dia em que é sancionada a lei pela obrigatoriedade no Ensino Médio, temos um resgate e uma justiça sendo feita. Pois oportunizar que os jovens reflitam sobre si mesmos e sobre a sociedade é fortificar a democracia - “Quanto mais esclarecidos os indivíduos mais esclarecida a sociedade”, afirmava Adorno.
A luta continua e, nas palavras do Dep. Ribamar Alves, em entrevista ao
Jornal Corujinha (pág. 3): “Assumi o compromisso de apresentar um PL que virá abrir a discussão e mobilização por todo país para que o Ensino da Filosofia aconteça em todos os níveis escolares e em todas as escolas, ou seja, tornar o ensino de Filosofia obrigatório já no Ensino Fundamental.”.
Resolução – A inclusão de Filosofia e Sociologia no currículo do ensino médio não é novidade para os sistemas estaduais. Em 21 de agosto de 2007, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou uma resolução orientando as redes estaduais de educação, que são responsáveis pelo ensino médio, sobre a oferta das duas disciplinas. A Resolução nº 4/2006, da Câmara de Educação Básica/CNE, ofereceu aos sistemas duas alternativas de inclusão: nas escolas que adotam organização curricular flexível, não estruturada por disciplinas, os conteúdos devem ser tratados de forma interdisciplinar e contextualizada; já para as escolas que adotam currículo estruturado por disciplina, devem ser incluídas sociologia e filosofia. A
resolução também deu aos sistemas de ensino um ano de prazo para as providências necessárias. Esse prazo termina em 21 de agosto próximo.

Dia histórico: sancionada a lei que torna obrigatória as disciplinas de Filosofia e Sociologia na Educação

Altera o art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatórias nos
currículos do ensino médio.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º O art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
com as seguintes alterações:
“Art. 36. .........................................................................................
........................................................................................................
IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas
obrigatórias em todas as séries do ensino médio.
§ 1º .................................................................................................
........................................................................................................
III – (revogado).
.............................................................................................” (NR)
Art. 2º Fica revogado o inciso III do § 1º do art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Senado Federal, em de maio de 2008.
Senador Garibaldi Alves Filho
Presidente do Senado Federal
gab/plc08-004

domingo, 1 de junho de 2008

Filosofia: vida e trabalho

O que a filosofia tem a ver com seu trabalho?
Esse texto, nascido de uma questão colocada em sala de aula, tem como objetivos:
1) Relacionar e discutir co-relações da filosofia com vida pessoal e profissional.
2) Explicar como a filosofia influência a vida nas organizações humanas hoje, a partir das exigências que são feitas aos trabalhadores.
Filha da filosofia, a ética renasceu no vocabulário da mídia e ganhou contornos de modernidade. Nesta medida, é atualíssimo discutir (e praticar?) os princípios éticos nas relações pessoais, profissionais e nos negócios. Nesse contexto, algumas expressões confundem-se: cidadania, ética, transparência, responsabilidade social e sustentabilidade.
Filosofia, aqui é abordada a partir de uma definição de Platão (427-347 a.C): "A filosofia começa com a perplexidade", o que, segundo nossa percepção é muito apropriado para os dias de hoje e "filosofia" é o uso do saber em proveito do homem".
Ética aqui é abordada como área da filosofia que estuda o comportamento humano. A palavra ética origina-se do termo grego ethos, que significa "modo de ser", "caráter", "costume", "comportamento". De fato, a ética é o estudo desses aspectos do ser humano: por um lado, procurando descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir. Por outro, procurando estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos. Assim, pode-se dizer que a ética trata do que é "bom" e do que é "mau" para nós.
Bom e mau, ou melhor, bem e mal, entretanto, são valores que não apresentam, para o ser humano, um caráter absoluto. Ao longo dos tempos, nas mais diversas civilizações, várias interpretações serão dadas a essas duas noções. A ética acompanha esse desenvolvimento histórico, para que isso sirva de base para uma reflexão sobre como ser ético no tempo presente.
O que chama a atenção é a fundamentação dos por quês, iniciada há mais de três mil anos com Confúcio, Lao Tzé e Sun Tzu (se considerarmos a filosofia oriental) ou 2.500 anos, se considerarmos a filosofia ocidental, iniciada com Sócrates (470-399 a.C), cujo pensamento nos chegou através de Platão. Esse período de 500 anos, historicamente é curto, em termos de evolução.
As ciências hoje conhecidas e praticadas têm sua origem na filosofia. No princípio, não havia separação formal e algumas mentes privilegiadas começaram a perceber o universo, o ar, a água, o fogo, a terra, os átomos, a energia, a mente, o corpo e o coração, a vida, os homens, as mulheres, a vida em sociedade, as crenças, a organização social, as práticas e os costumes da vida em sociedade.
Cabe perguntar: o que aconteceu que fica em nós a percepção de que aparentemente o mundo perdeu o rumo? Uma resposta simples, mas possível: deixamos de pensar.
Segundo o pensador peregrino contemporâneo Bstam-dzin-rgya-mtsho (1935), mundialmente conhecido como Dalai Lama XIV, "Apesar de todo o progresso material ocorrido no século passado e no atual, ainda experimentamos sofrimento, especialmente no que se refere ao bem-estar mental. Na verdade, o complexo meio de vida criado pela modernização e globalização está gerando novos problemas e novas causas de perturbação mental".
Esse mesmo pensador refere-se aos ensinamentos sobre as quatro Nobres Verdades, descritas por Xaquiamuni Buda (cerca do séc.VII a.C.):
1a - A vida envolve sofrimento.
2a - O sofrimento é causado, não acontece por acaso.
3a - Podemos descobrir a causa e romper a cadeia causal para impedir o sofrimento.
4a - Devemos praticar para alcançar o fim explicado na terceira verdade.
Nesse contexto explica-se o sofrimento como: "o apego que leva ao renascimento, conectado à alegria e à ganância, continuamente encontrando deleite e prazer ora aqui ora ali. É o apego por satisfações sensuais, apego à existência e apego à não-existência".
Finalmente, "para podermos verdadeiramente entender a cessação do sofrimento, precisamos primeiro reconhecer ao que origina nossas aflições mentais e emocionais e, então, aprender a discernir que estados mentais agem como antídotos diretos sobre elas".
Antonio Carlos Olivieri, escritor e jornalista escreveu que para Aristóteles (384-322 a.C), todas as atividades humanas aspiram a algum bem, dentre os quais o maior é a felicidade. Segundo esse filósofo, entretanto, a felicidade não consiste em prazeres ou riquezas. Aristóteles considerava que o pensar é aquilo que mais caracteriza o homem, concluindo daí que a felicidade consiste numa atividade da alma que esteja de acordo com a razão.
Depois disso, vem os filósofos hedonistas (do grego "hedoné" = "prazer"), segundo os quais, que acreditavam que o bem se encontra no prazer. No entanto, convém esclarecer que o principal representante do hedonismo grego, no século três a.C., o filósofo Epicuro, considerava que os prazeres do corpo são causa de ansiedade e sofrimento. Segundo ele, para a alma permanecer imperturbável, é preciso desprezar os prazeres materiais privilegiando-se os prazeres espirituais.
Genericamente, pode-se dizer que a nossa civilização contemporânea é hedonista, pois identifica a felicidade com o prazer, obtido principalmente pela aquisição de bens de consumo: ter uma bela casa, carro, boas roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais sem compromisso etc. E, também, na dificuldade de suportar qualquer desconforto: doenças, problemas nos relacionamentos pessoais, o fato de a morte ser inevitável etc.
Aparentemente, os apressados e os incautos podem concluir que nos encontramos "num beco sem saída". Não é bem assim. Não há nada de errado na aparente contradição dentre mente e corpo. A dinâmica do mundo material é resultante de forças e energias contrárias, assim, o desejo básico por felicidade, paz e prazer, e o desejo igualmente básico de superar a dor e sofrimento existem naturalmente em todos nós. Tendo em mente que nos realizamos através do trabalho, cada um de nós quer, pode, tem como objetivo e direito levar uma vida feliz e tranqüila e viver num mundo feliz.
Precisamos nos relacionar com as contradições e aprendermos a utilizá-las positiva e construtivamente, não nascemos sabendo isso. A filosofia, desde que incorporada ao patrimônio humano, ao longo desses 3 mil anos está nos ajudando a aprender.
Para concluir, cito uma passagem da obra, "Iluminando o Caminho" do Dalai Lama, ed. Fundamento: "É importante compreender com clareza e convencer-se de que emoções como ódio e ganância são forças interiores destrutivas que podemos reduzir e superar. E que pontos de vista basicamente saudáveis e éticos evitam o surgimento de muitas emoções e pensamentos negativos".
Num contexto amplo, todas as partes do mundo efetivamente tornaram-se parte de nós mesmos.